quarta-feira, 4 de maio de 2011

Autismo: hormônio para socializar

Traduzido por Inês Dias de: Press-In anno III/n.1257 – Varese News 02-05-2011
Enviado para a Comunidade Virtual Autismo no Brasil

O papel da oxitocina e da vasopressina para o controle dos transtornos do comportamento social e cognitivo foi demonstrado em um modelo animal para autismo. A pesquisa é fruto de uma colaboração entre Cnr, Universitá Statale, Bicocca, Politecnico di Millano e Universitá dell'Insubria.

Descobriu-se recentemente o papel fundamental que a oxitocina (Ot) e a vassopressina (Avp) têm na regulação de vários aspectos do comportamento social, sugerindo um possível emprego desses hormônios nos transtornos do espectro do autismo. Uma pesquisa conduzida pelo Instituto de neurociência do Conselho Nacional de Pesquisa (In-Cnr) de Milão, na Itália, Bicocca e Politecnico – dell'Insubria e da universidade japonesa de Tohoku, evidenciam que os hormônios Ot e Avp mostram uma elevada capacidade de influir positivamente, sobre déficits de socialização e de flexibilidade cognitiva em indivíduos adultos, isto é, depois do desenvolvimento completo do sistema nervoso. O estudo foi publicado na revista Biological Psychiatry.

"Para desenvolver e validar uma possível abordagem terapêutica para os TEA, utilizamos modelo murino (camundongos geneticamente modificados) com características muito aprofundadas de autismo, sem os receptores de oxitocina no sistema nervoso central" diz Bice Chini do In-Cnr, coordenadora da pesquisa. "Na ausência de tais receptores, esses animais mostram alterações da memoria social e flexibilidade cognitiva reduzida, reproduzindo portanto o núcleo central da sintomatologia autística, que consiste em déficits da interação social, rigidez cognitiva e interesses restritos". Os dados dos pesquisadores "evidenciaram que os animais não se familiarizavam como outros da sua espécie e, sobretudo, não eram capazes de distinguir um ratinho já encontrado de um novo", explica Mariaelvina Sala, da Universitá Statale de Milão. "Apresentam déficits muito característicos de flexibilidade cognitiva: são capazes de aprender a maneira de executar uma tarefa muito eficientemente, mas uma vez aprendida, nãos são capazes de abandoná-la para adquirir uma nova maneira quando as condições ambientais mudam, demonstrando uma peculiar rigidez cognitiva. Notamos também que os animais são mais agressivos e, se tratados com doses normalmente ineficazes de agentes farmacológicos convulsivantes, respondem com crises do tipo epiléptico, manifestações estas frequentemente associadas ao autismo, que indicam um aumento da sua excitabilidade cerebral de base".

O estudo mostrou que a administração de Ot e Avp foi capaz de reduzir todos os déficits encontrados, mesmo em animais adultos jovens. "Essa capacidade é de grande relevância por que indica que o sistema Ot/Avp é altamente plástico e capaz de modular a atividade dos processos cognitivos complexos, mesmo depois do desenvolvimento completo do sistema nervoso", prossegue Marco Parenti, da Universidade Bicocca de Milão. "Os nossos dados indicam que tal capacidade reside na capacidade dos dois neuropeptídeos de interferir nos processos celulares envolvidos na definição do desenvolvimento no sentido inibitório ou excitatório de determinadas sinapses e, portanto, na determinacão do equilíbrio excitação/inibição neuronal, fundamental para o correto funcionamento do cérebro". Uma confirmação posterior da excitabilidade cerebral aumentada foi obtida pela análise dos registros eletroencefalográficos, efetuada graças a um software desenvolvido pelo Politecnico de Milão. "Os resultados do nosso estudo são importantes por que, ao demonstrarem que os déficits comportamentais e cognitivos devidos a uma alteração da excitabilidade neuronal em idade de desenvolvimento podem ser modulados em idade adulta pelos hormônios Ot e Avp, propiciam uma abordagem terapêutica potencial nova baseada no uso dessas moléculas".

Os resultados da pesquisa foram publicados em:

Sala et allii - "Pharmacologic rescue of impaired cognitive flexibility, social deficits, increased aggression, and seizure susceptibility in oxytocin receptor null mice: a neurobehavioral model of autism". Biological Psychiatry. Vol.69, Issue 9, Pages 875-882 (1 May 2011)

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Um comentário:

Marcel Ribeiro disse...

Matéria realmente MUITO interessante!

Uma descoberta maravilhosa que abre um leque de novas descobertas que sem dúvida nenhuma irá ajudar aos autistas ao redor do mundo muito em breve!

Parabens aos nossos cientistas!